quinta-feira, 2 de julho de 2009

No amor redundâncias são sempre permitidas…


“Para quem ama, o ser amado aparece sempre como um solitário”. (Walter Benjamin).

Hoje as minhas mãos estão trêmulas devido às diversas ansiedades que vagam e ecoam pelo meu ser. Tenho a percepção que o meu espírito quer fugir do meu corpo, como um pássaro que se bate em uma gaiola – a minha alma anseia por vôos mais altos: quero tocar as estrelas e ser uma delas. Queria poder conquistar o mundo, vivendo simplesmente, mas os olhares e as indiferenças alheias me jogam cada vez mais para dentro de mim, me vejo em um cenário corriqueiro: meu quarto estremecido por palavras que não encontram interlocução, e canções que fazem com que eu me atire em um abismo sem fim. Penso muito naquelas palavras: “Vocês não ouvem esses gritos assustadores ao redor que habitualmente chamamos de silêncio?”, que li na sublime abertura do filme: “O enigma de Kaspar Hauser”; essa questão somente encontra uma resposta quando percebemos o quanto o mundo nos empurra para uma profunda solidão. Hoje a chuva banhou o meu ser: aquele banho de água fria tão necessário para se cair na realidade – me sinto um Werther, que sofre por ter as suas vontades frustradas, se perde nos artifícios da vida e entende que a realidade não é tão simples assim. Quando se colocamos no lugar do outro o mundo se torna ainda mais cruel, pois mesmo tendo a percepção que o ser desejado o deseja também, compreende que o olhar distante e opressor de um terceiro é como arma que destrói lindas possibilidades – elas se perdem nas nossas neuroses, que são reais e nos vencem sempre, nos sentimos perdedores de nós mesmos… Quando se tem um mundo que é meio para se alcançar a redenção – aquele mundo cristão -, nos tornamos cegos e desprezamos o que é pouco e simples, sempre com o anseio de que devido ao nosso “merecimento”, o mundo ideal será melhor, e com isso, nos tornamos reféns de uma insana e covarde resignação. Na fé que temos guardamos uma saudade de futuro e perdemos o que jamais tivemos – a ação é refutada antes mesmo de ela acontecer! Nós humanos, eu e você, preferimos o conto de fadas, o amor de folhetim, aquele onde o outro larga tudo para se dedicar exclusivamente a alguém – em um plano ideal tudo é mais fácil. Criamos, ou melhor, recriamos histórias que jamais serão nossas, mas quando acordamos na noite, sentimos, ao olhar para o lado, que estamos sozinhos e que a realidade não é ficção – isso dói. O desamparo no caminho, cada vez mais difícil, nos dá uma sede de livros, de respostas que não são nossas. Olhamos para o céu, que geralmente é o teto de nossos quartos, e descobrimos – assim como Kasper Hauser – que o nosso quarto é maior que o mundo, pois conseguimos contemplar cada canto desse mundo, no entanto, ele é frio, ele é solidão – Ah… Esse mundo é confortável em alguns momentos e angustiante em outros tantos. O telefone não toca, a música se repete, a história que queria se viver se perde nesse “imenso” mundo onde os trópicos cruzam paredes cada vez mais frias, e os horizontes são janelas ou portas que jamais se abrem para as pessoas que mais desejamos. Às vezes temos a idéia de que o mundo não é para nós e justificamos a nossa tese na religiosidade e na filosofia, pois é mais fácil termos respostas que não são nossas. No entanto, elas nos confortam na maioria das vezes, como se ouvíssemos os conselhos mais certos para a construção de um caminho que insistimos em trilhar mesmo resistindo. E se acordássemos algum dia desamparados, orfãos de uma idéia de Deus, jogados a nossa própria liberdade, não seria o mundo mais belo? Teríamos coragem suficiente para vivê-lo? Não seríamos nós heróis? Nesse mundo desamparado, teríamos no amor, uma possibilidade de redenção; mudaríamos os nossos destinos em um piscar de olhos e chegaríamos a conclusão que a única missão que temos é sermos livres querendo que os outros também o sejam… Há coisa mais linda que isso? Ver o ser amado vagando livre pelos bosques onde os pássaros cantam a glória de duas vidas que se encontram nesse mundo do acaso, onde temos um compromisso com nós mesmos. O mundo com certeza se fecharia nesses dois seres que de alguma forma se deleitam com a presença um do outro, o olhar alheio já não interessa, eles são únicos um para o outro… Talvez assim, quando essas duas pessoas se amarem o mundo se fechará nelas mesmas e as suas existências se justificarão nas suas próprias existências – no amor redundâncias são sempre permitidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário