quinta-feira, 2 de julho de 2009
A vida é um quebra-cabeça.......
Há um momento na vida em que precisamos pensar e repensar toda a nossa trajetória até então, onde pegamos todas as angústias, frustrações, alegrias, crenças, ideais e até mesmos os sentimentos mais obscuros – colocamos por sobre uma mesa, olhamos e contemplamos a nós mesmos. Sobre essa mesa, após despirmos o nosso ser, há um imenso quebra-cabeça, multicolorido, obscuro, um pouco sem sentido: uma vida pretensamente vista de fora.
É preciso ter força suficiente para pegar cada peça na mão, dar uma olhada mais profunda: analisar, descartar ou guardar – cada peça posta fora é motivo de risada, é passado a ser esquecido, mesmo reconhecendo que em um determinado momento tenha tido alguma importância. Nesse sentido, somos tomados por tal força que nenhuma peça é jogada fora por ressentimento, mas apenas por alegria e reconhecimento de nós mesmos. Algumas peças não são postas fora, remontamos o quebra cabeça, e outras peças guardamos no bolso, reconhecendo que um dia elas terão importância e responderão a algumas lacunas desse imenso mapa inconcluso em forma de quebra-cabeça chamado vida.
Reiniciamos a aventura, montando peça por peça… o mapa começa a ter novas cores, novos amores, novos sentidos, e ainda mais novas angústias – um caminho imenso se abre ao olhos, pássaros cantam de forma tão diferente, antigas pessoas ganham novas cores, antigas idéias remontam novos caminhos; uma constante criação de paisagens é feita, a mão se faz a própria vida, o seu próprio quebra-cabeça – e é preciso ter muita serenidade e coragem para isso!
Veremos que além do que se parece um fim, se abre ainda uma caminho maior, desértico, indescoberto… Nisso tudo, algumas lacunas vão aparecendo e crescendo ainda mais… Lembramos então, que havíamos guardado algumas peças no bolso – muitas peças! Cada lacuna é uma pergunta, e cada peça guardada é uma resposta… Assim encaixamos ali, cada amigo guardado no bolso de nossas memórias, coisas ditas que sempre têm o momento certo para serem úteis… Novamente, o quebra-cabeça toma outra cor, outra alegria, mais ainda sim, a incompletude chama para a andança da vida…
Algumas imensas lacunas se apresentam de maneira tão violenta que um tremor no estômago acusa momentos de tribulações, novos sonhos se perdem, o quebra-cabeça perde as cores, e novamente a inconclusão nos toma de assalto, nos vemos sozinhos, e se perguntamos: “Por quê? Não me encaixo em nada… Sou eu também uma peça desse quebra-cabeça?”… Um deserto por sobre o deserto, tal qual apareceu ao andarilho de Nietzsche, nos aparece, nos vemos assim: sem sentido, totalmente perdidos… Na linha tênue entre a consciência e a desconsciência de nós mesmos – quem disse que sabemos tudo de nós mesmos? Paramos, passam-se anos… e percebemos, olhando para trás – pois o quebra cabeça é como estrada que construímos para a nossa andança -, que cada vez que se encaixamos entre as peças do nosso quebra-cabeça, estávamos de um jeito diferente: uma mesma peça que se encaixava hora de um jeito e hora de outro, mas permanecia o mesmo e ao mesmo tempo diferente… E assim, totalmente entregue à vida, um pouco estóico, esperamos um novo momento, uma nova lacuna, para sacar de nosso bolso um amigo, e sacar de sua alma nós mesmos… Em um movimento constante de junção de peças, criação e amor: a nossa própria vida.
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